sexta-feira, 5 de abril de 2013

a história política de buenos


Buenos entrou para a Câmara quando fez 18 anos. Foi prenda do pai, um agricultor bem posicionado na cidade, por via dos produtos alimentares que vendia no mercado. Frequentador assíduo da Paróquia, não foi difícil convencer o padre a falar com outro padre que era amigo do Presidente da Câmara, cuja filha havia engravidado sem o pai saber, pensando dessa forma que tinha sido a estrelar ovos na cozinha. Vai falar com o teu amigo padre senão vou cuntar tudo ao Presidente que foi ele quem engravidou a filha, ouvistes?
Quando o pai lhe deu a notícia Buenos chorou muito: ai eu queria ser jogador de futebol! Disse ele. Cala-te! Quem manda sou eu.
O primeiro conselho que o Presidente deu a Buenos foi tirar um curso de gestão urbanística em dois anos, um curso muito conhecido nas autarquias portuguesas e útil para quem queria navegar nas águas turvas da construção civil.
Buenos conseguiu o feito de o tirar num ano, algo inédito até então. Com 19 anos já era mestre na arte do "toma lá, dá cá", por sinal o título do primeiro capítulo do manual distribuído por todos os autarcas e cuja autoria era anónima. Reza a lenda que o seu autor está preso, mas nunca tal foi confirmado.
A primeira prenda que recebeu dum empreiteiro a quem tinha feito um favor foi 4 pneus para ele colocar no Simca que o pai lhe havia oferecido.

No final do dia entrou em casa esbaforido e aos gritos: ganhei 4 pneus, ganhei 4 pneus, cantava ele.
O pai deu-lhe um par de estalos. Cala-te! Nunca digas a ninguém o que recebestes.
A prenda seguinte foi um automóvel topo de gama. É fácil, pensou Buenos, é fácil demais. Depois vieram os relógios Patek Philippe, uma colecção deles. 

Não conformado e sentindo o terreno livre, Buenos apostou nos apartamentos. Um, depois outro, a seguir outro, uma quinta, uma casa. Calma meu, calma, assim vais dar nas vistas.
Num tenhas nada em teu nome, ouvistes? Dizia-lhe o pai, seu principal conselheiro. E o que faço aos apartamentos? perguntava Buenos.
Os apartamentos deixa-los estar em nome de quem os construiu. Assim ninguém desconfia.
Cheio de apartamentos, Buenos passou a pedir dinheiro aos empreiteiros. Era aos montes. A conta já batia no vermelho. Depois começou a meter num cofre escondido em casa, mas este já abarrotava. Mais tarde por ter ouvido falar nisso, abriu contas em offshores para onde mandou milhões de euros.
Esta actividade chegou aos ouvidos do partido, o qual envou um emissário para falar com Buenos.
Recebes o teu dinheirinho, a gente dá-te cobertura política, mas tens que oferecer algum para nós para podermos comprar material de campanha, disse-lhe o emissário.
E Buenos deu muito, mas muito mesmo. E quando o seu rival na Câmara, o Firmino, sentiu que tendo o apoio do Outro seria o próximo Presidente, o partido mandou-o estar calado, porque Buenos é quem tinha dado mais.
E aqui o vemos candidato a Presidente da Câmara.

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