sexta-feira, 25 de junho de 2010

zé laia é entrevistado







Acontece sempre com os grandes homens, aqueles que são actores da história, aqueles que a fazem, que a alteram, que a estragam. Zé Laia está votado ao abandono. Por amigos, por correligionários, pela imprensa, pelas elites. As elites que ele tanto aprecia ao ponto de ser seu desejo a elas pertencer.

Zé Laia amarelaste.

É. Amarelei e de que maneira. Eh eh eh!

Achas que os poveiros da Póvoa do Varzim podem sentir orgulho da sua terra?

Podem como eu posso.

E tu podes?

Posso.

Que grandes obras te faltam fazer?

Nenhumas. Tenho-as todas feitas.

E o Garrett?

Essa num é uma grande obra.

E a ETAR?

Essa também num é.

E o estádio do Varzinho?

Essa já é. Quer-se dizer, não o estádio em si mas a saída dele, eh eh eh!

Quem achas que vai ser o teu sucessor?

Eu gostava que fosse o Al Fonso, o Árabe, mas o Desaires já deu um sinal.

E que sinal foi esse?

Piscou os olhos.

Como é que vês a cidade da Póvoa do Varzim?

Está muito melhor. Nestes 17 anos desenvolveu-se muito e, é verdade, pessoas de todos os quadrantes políticos me dão os parabéns: Zé a Póvoa está mais desenvolvida., dizem eles. Malandros! Até as elites que num querem saber do Varzinho para nada me elogiam: Zé és o maior, dizem eles.

Mas em 17 anos não havia de estar?

Eu acho que não. Está porque fui eu que a desenvolvi. Sabes sou um visionário e quero ser visto como tal.

A Póvoa é uma cidade cara?

Não. Já tive várias propostas de elites que a queriam comprar, mas eu disse que não. A sustentabilidade é o meu maior segredo e daqui a 20 anos o que cá estiver há-de dizer: pá aquele gajo que cá esteve era um visionário. Só tinha visões.

O que pensas sobre o aumento do desemprego na Póvoa do Varzim?

Estou preocupado.

E o aumento da criminalidade?

Quem? O Desaires Eleitorais? Eh eh eh!

Não. A outra criminalidade?

Estou preocupado também.

O que pensas fazer quando saíres da Câmara?

Estou preocupado.

Com quê?

Porque queria ter mais uma reformazinha e num vejo jeitos.

Porquê?

O hospital num anga prá frente.

Já estás a pensar num tachinho lá?

Quem num pensa?

Estás a pensar fazer o mandato até ao fim?

Num estava mas agora estou. O Desaires anda aí a armar-se e eu tenho que controlar a situação.

Nas últimas eleições o Partido do Social e do Democrata esteve em riscos de perder. Que achas que aconteceu?

Pá, aquilo foi por causa da prova de automóveis que incomodou as pessoas.

Então achas que a culpa é do Desaires Eleitorais?

Não. A culpa é do Tone.

Que Tone?

O Tone.

Mas ele já não anda por aí.

Ai não num anda.

E as portagens na A28?

Estou preocupado.

E o saneamento?

Estou preocupado.

Achas que o Varzinho pode jogar no estádio Municipal?

Pode jogar já amanhã.

Mas amanhã não há jogos.

Por isso mesmo. Amanhã pode, depois de amanhã já num pode. Só amanhã. Eh eh eh!

E isso preocupa-te?

Preocupa.

O que achas do Sócrates?

Apoiava-o mas desde que o novo Hospital ficou em águas de bacalhau já num apoio. Está ferido de morte. Estou como S. Tomé.

Consideras-te um homem livre?

Livre de quê?

Tu é que disseste que eras um homem livre.

Pois disse. Eu esteve a ler aquele filósofo grego, o Gastão, e aprendi que um homem livre vê-se a si próprio.

Porquê que vais homenagear o Nero?

Porque é um homem de esquerda como eu.

E também vais querer ser homenageado quando saíres?

Não. Um champanhezito chega.


Com as lágrimas nos olhos se despediu Zé Laia, um homem amargurado pelas traições de que foi vítima pelos próprios comparsas.











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