sexta-feira, 8 de março de 2013

LEVAI-OS ÀS BIUTECAS DE PRAIA!

Ainda hoje Firmino não consegue entender como chegou a vereador. Tudo começou com um programa que ele dirigia numa rádio pirata em que falava da sua cidade, com poemas feitos por ele, acompanhados da música de Richard Clayderman.
Um dia à noite, nervoso e sem sono após o convite formulado para se candidatar, o Outro resolveu ligar o rádio no intuito de poder adormecer. Sintonizou precisamente no programa do Firmino, uma espécie de "Oceano Pacífico". E lá estava:

"Amo a minha cidade,
Coisa linda, lustrosa, 
Verde de Inverno e Azul de Verão,
Agarro o meu violão e
Canto uma canção do Richard Claydermão.

E por aí fora, sempre com o piano do Richard, de fundo:




O Outro adormeceu instantaneamente, de forma que ficou maravilhado e, no dia seguinte, tratou de saber quem era esse Firmino, se tinha alguma coisa a ver com o restaurante.
Informado sobre a personalidade, formulou o convite:

Vais ser meu vereador.
Vereador de quê? Perguntou o Firmino a tremer das pernas.
Vereador da cultura.
Cultura? Cultura de quê? Da batata? Da cenoura? Eu num percebo nada disso.

Eh eh eh! Respondeu o Outro. Da cultura amigo, coisa de livros, de leituras, de canções, home, nunca ouviste falar disso?
Disso já ouvi, sim senhora.
Prontos já sabes, depois falamos.
Firmino levou a ideia a peito e tratou de se empenhar nos livros: fez o Festival dos Livros e das Leituras, comprava livros às dezenas a todos os escritores, e tinha a mania de que as Bibliotecas eram o lugar ideal para a juventude, assim como a bóia de salvação, uma espécie de "Tribunal Constutucional" para o Buenos.
Quando Firmino começou a ganhar dinheiro, por indicação da mulher que lhe disse: atão os outros roubam e tu num roubas porquê oh?, começou a viajar para países longínquos e foi aí que descobriu a maravilha das maravilhas, como ele dizia entre os seus: as Bibliotecas de Praia.
Firmino, esperto como era, tratou de importar o modelo para a cidade, um modelo mais simplório mas que ele garantia ser um sucesso, as chamadas Biutecas de Praia, dicção dele por dificuldade em soletrar as letras correctamente.
O que eram as Biutecas de Praia? As Bibliotecas de Praia eram pequenos barracões instalados no areal, com os jornais e revistas do dia, em que os veraneantes se sentavam a ler as notícias diárias, para grande irritação dos vendedores que assim perdiam a oportunidade de vender mais nos meses de Verão.
Um sucesso absoluto, milhares de pessoas, livros que desaguam no mar, correntes de leitura, romances ao pôr do sol, eram alguns dos nomes que Firmino utilizava nas rádios para caracterizar as suas Biutecas de Praia.
O caldeirão de cultura e livros é muito bonito, mas quando as dificuldades dos pais, alunos e professores vinha ao de cima Firmino via-se atrapalhado para dar resposta convincente, de forma que se desenrascava com a expressão: 

LEVAI-OS ÀS BIUTECAS DE PRAIA!

Tocam à porta do seu gabinete: TOC TOC!
Queim é?
Oh Sr. Firmino somos da Associação dos Pais Sem Dinheiro e viemos saber se o senhor podia ajudar-nos a comprar os livros escolares.
Mas os livros escolares estão nas livrarias, é só comprar.
Pois é Sr. Firmino, mas nós estamos sem dinheiro e se o senhor pudesse dar uma contribuição era muito bom.
Contribuição não posso porque não tenho, mas dou uma sugestão:
LEVAI-OS ÀS BIUTECAS DE PRAIA!

No dia seguinte tocam de novo à porta: 

TOC TOC!
Queim é?
Sr. Firmino somos da Federação dos Professores e estamos preocupados porque os nossos alunos aparecem nas aulas sem livros.
É porque se esquecem deles, respondeu Firmino.
Num é Sr. Firmino, é que os pais estão sem dinheiro para os comprar e se o Senhor pudesse dar uma contribuição era bom.
Eu? Até parece que eu sou do BPN, respondeu Firmino com oseu habitual humor. Vou-vos dar uma ideia que tem resultado.
Qual é Sr. Firmino?
LEVAI-OS ÀS BIUTECAS DE PRAIA!

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