Buenos andava desolado. Há mais de uma semana que não era convidado para uma inauguração, uma festa, um evento, uma solidariedade. Nos jornais era só fotografias da Ervilha: Ervilha visita isto, Ervilha visita aquilo. Raios parta tanta Ervilha, pensou. Mirava com alguma mágoa os bolos-rei e os pães de ló para distribuir pelos funcionários.
TOC TOC!
Queim é?
Dr. Buenos está lá fora o Carias a perguntar a que horas é que entrega os doces.
Manda-os entrar e vamos começar.
Ao contrário dos anos anteriores em que cada funcionário levava um bolo-rei e um pão de ló, 2012 ficaria marcado pela entrega de apenas um, à escolha.
Ei Inginheiro, tudo fixe?
Num me chames de inginheiro, olha que eu sou doutor. Queres bolo-rei ou pão de ló? Perguntou ao Carias.
Atão num é as duas coisas?
Isso era no ano passado.
Pode ser bolo-rei.
Atão pega lá.
Ai, este bolo-rei só tem calonga.
Num é boa a calonga?
Podia ó menos ter casca de laranja.
Num tem laranja, mas tem limão.
E donde está o limão?
Tá dentro, é o brinde.
O brinde?! E atão onde está a fava?
Pega tenho aqui uma. Outro.
O brinde?! E atão onde está a fava?
Pega tenho aqui uma. Outro.
Quando terminou Buenos estava extenuado.
Sentou-se no cadeirão que era do Outro e começou a cismar com a Ervilha: arroz com ervilhas, ervilhas estufadas, frango com ervilhas. De repente surge uma Ervilha gigante com as mamas a sair pela camisa. Buenos ainda se endireitou na cadeira para melhor apreciar. O problema foi quando a Ervilha começou a deitar leite verde pelas mamas e Buenos sentiu-se a afogar:
Socorro! Socorro!
A secretária entrou no gabinete esbaforida: que foi Dr. Buenos?
Foi um pesadelo que tive, mas já passou.
Olhou para o telemóvel e nem uma chamada. Filhos da puxa que ninguém me liga.
De repente o som do triim triim.
Buenos olhou e viu que era o Lau Lau. Que quererá este Lau Lau? Às tantas quer-me vender as calças cor de rosa, mando-o já pócarago.
Fala Lau Lau!
Oh meu é pa-te conbidar para o aniversário do clube, tás a ver?
Ai é, entusiasmou-se Buenos, já a pensar em aparecer nas fotografias do jornal do seu grande amigo e compadre Gurguilho. E qandé isso?
Oh meu, é no próximo Sábado, já sabes, tenho uma prenda em ouro para te oferecer meu, porque tu ajudaste muito o clube, tás a ver meu.
Iá, iá meu, respondeu Buenos já a entrar na mesma linguagem do Lau Lau. Obrigada mano, tamos aí pró que for preciso.
Ok meu lá tespero.
De imediato Buenos liga para o Gurguilho. Gurguilho amiguilho, aparece no aniversário do clube para fazeres a reportage e tirar-me umas felestrias.
Ok chefe, lá estarei.
No dia Buenos surge com o seu melhor fato. Tratava todos por doutor: oh Dr. Pedro, oh Dr. Paulo, oh Dr. Miguel, oh Dr. João. Gurguilho sempre atrás a tirar as fotografias. Vão ser as melhores fotografias do ano, disse ele para Buenos. Quantos associados ponho na notícia? Buenos nem pensou: põe 2 000. Ei meu 2 000 não, num temos assim tantos meu. Gurguilho põe aí 4 dezenas. Dezenas?!! Indignou-se Buenos. Tá mau isto.
Na hora de cortar o bolo, Lau Lau chama todos e discursa:
Na presença do Dr. Buenos, meu grande amigo e compadre vamos comemorar o aniversário, sendo que a primeira fatia, dourada, vai para o meu grande amigo Dr. Buenos. De repente ouviu-se: peço a todos uma grande salva de palmas. Era o poeta manquinho que vinha acostumado do Festival do Emigrante.
Lau Lau saca da faca, aponta ao bolo e parte a fatia da melhor zona, aquele que tinha os números do aniversário: 69.
Ei, ei, disse Buenos, essa fatia num é pra mim.
Oh meu, pega lá, come, labei as mãos, tá limpo o bolo.
Fica tu cu69.
Buenos zangado voltou para o seu gabinete, da janela do qual passou o resto do dia a desejar bom ânus a todas as moças jeitosas que passavam na rua.
Para as que olhavam indignadas Buenos emendava: Bom ânus de 2013!
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