Firmino sentiu que foi um sonho tornado realidade, tipo conto de fadas, o convite que o Dr. Outro lhe fez para ser vereador. Famoso entre a população jovem, enquanto professor, por ministrar as aulas de forma cantada, tipo missa do galo, de que é exemplo o ensino de Sócrates:
Sóóócraaateeees fooooi um graaaaande filóóóósoooofooo! E os alunos: Ámen!
Ainda agora os seus antigos alunos quando com ele se cruzam cumprimentam: sóóóocrates foooooi… …
Mas depois do que se passou com o verdadeiro Sócrates, Firmino não permite o termo do cumprimento e responde ferozmente: foi o carago!
Tirado deste inferno por um convite inesperado, Firmino sempre se sentiu o protegido dentro da Câmara. Embora Buenos mandasse em tudo, Firmino sentia que o seu destino era suceder ao Outro, e o Outro esse desiderato tinha para Firmino. Mas Buenos, com aquela esperteza que lhe é característica, tratou de em conluio com Gurguilho fazer a cama a Firmino perante o olhar aterrado do Outro que passou a encolher os ombros.
Gurguilho só publicava no seu jornal fotografias de Buenos. Era em em fato e gravata, era com calças de ganga, era com fato-macaco, era com calções de banho ou equipado de pugilista, o seu desporto favorito. Já Firmino só aparecia rodeado de livros. Era a Mariazinha que apresentava um livro, era o Góis outro, era o Estevão outro, e Firmino ali como sentinela com uma cabeça do tamanho do mundo.
O seu orgulho foi ferido de modo violento quando se deparou com a entrevista do Dr. Se Vier no jornal do Gurguilho.
Ei Buenos podias ter-me avisado meu, sou um homem da cultura, disse Firmino por telefone do gabinete dele para o do Buenos.
Tem calma, tem calma, o Se Vier tá controlado.
Quando é que me arranjas uma para mim?
Gurguilho tinha uma dupla função junto de Buenos: por um lado publicar tudo o que lhe dizia respeito e, por outro, descobrir todos os podres daqueles que se lhe opunham. Em ambas as funções Gurguilho demonstrava extrema eficácia. Quando um tal de Serafim passou a escrever ums crónicas num jornal da concorrência em que apelidava Buenos de chulo, corrupto e gatuno, Buenos chamou de imediato o contabilista para saber quanto dinheiro havia nos cofres para lhe meter um sangrento processo. Perante a resposta de zero, Buenos telefonou a Gurguilho:
Gurgulhinho meu menino?
Sou eu Buenos.
Preciso dum daqueles teus servicinhos suxos.
Ai é? Quem é ele?
Um tal de Serafim, revolucionário. Vê se é casado e se for trata de saber se é corno. Percebestes?
Percebi chefe.
Gurguilho tinha vários disfarces para seguir estas personagens que incomodavam Buenos. Pegava num chapéu e enfiava à força por cima da cabeleira que mantinha em bom estado, tipo Reginaldo Rossi. Oh:
Embora achasse perfeito o disfarce toda a gente percebia que era Gurguilho. É que só ele e o Beky tinham uma cabeleira estilo Reginaldo, sendo que um imitava o outro.
Alô Buenos?
Diz-me-le, diz-me-le!
É corno.
Num publiques no jornal, guarda no bloco.
Qual bloco?
Aquele caderninho que eu te dei, burro. Escreve lá isso e guarda pra mais tarde, pra num te esqueceres.
Firmino ficou feliz quando dois dias depois recebeu um telefonema de Gurguilho para agendar uma entrevista.
Vê-me lá o que vais dizer, tu vê-me lá, num me estragues a caundidatura! Disse-lhe em tom de aviso Buenos.
Só vou dizer que não me arrependo de nada do que fiz.
Prontos outro que vai chorar.
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